domingo, 17 de agosto de 2008

Pingüins de Punta Tombo*

Uma verdadeira “copacabana de pingüins”- assim é Punta Tombo, na Patagônia argentina, lugar ideal para ser visitado por aqueles que procuram paisagens menos convencionais. Se trata da maior e mais importante colônia continental de pingüins fora da Antártida, com 3 milhões e 500 mil aves. Para se chegar a este paraíso é necessário passar pela cidade de Trelew, na província de Chubut e de lá chacoalhar 100 quilômetros em estrada de chão batido, atravessando estâncias ao longo do caminho.

Os pingüins de Magalhães, que vivem na Pingüinera de Punta Tombo, se dividem em classes sociais. Como a densidade demográfica desta reserva é bastante significativa, eles constrõem as tocas cada vez mais longe da praia. Os que moram à beira mar são os privilegiados - tal localização lhes permite pescar com facilidade, por isso são bem gorduchos. Um pouco mais distante estão os considerados classe média e a um quilômetro da orla se encontram os “excluídos”, tão magros quanto as modelos das grifes famosas. Isto acontece porque as calorias consumidas acabam se desgastando nas longas caminhadas de passos desajeitados entre as tocas e o mar.

Estas aves, que adornavam as geladeiras dos brasileiros na década de sessenta, se mostram bastante tolerantes com a presença dos turistas, desde que não invadam sua privacidade. Visita-se Punta Tombo acompanhado de guias contratados em Trelew, responsáveis por narrar a história desse bichinhos e orientar para os cuidados. Não se deve gritar, pois a balbúrdia incomoda o sono dos recém nascidos. É preciso ficar atento para não pisar nos ninhos, construídos debaixo dos arbustos e é proibido tocá-los, pois uma vez impregnados com o cheio dos homens são abandonados pelas mães.

Embora sendo aves que não voam, os pingüins são perfeitamente adaptados à vida aquática e se encontram em quase toda a costa patagônica. Vivem de oito a dez anos. Com um ano são jovens e aos dois adultos, época em que acasalam. Medem entre 40 e 50 centímetros e pesam de quatro a cinco quilos. Os machos se distinguem das fêmeas por apresentarem bicos mais grossos e longos. Ambos emitem um som que tanto pode ser um cortejo, como um alerta para avisar da presença de estranhos.

Gastam grande parte do tempo com a “cosmética”- arrumando, ordenando e limpando a plumagem com o bico, ritual que lhes assegura a impermeabilidade. Passam muitas horas na água, inclusive dormem nela. São capazes de navegar oito quilômetros por hora saltando fora d’água de vez em quando e mergulham até três metros de profundidade. Em Punta Tombo se fica lado-a-lado com eles e há um local onde é possível observá-los nadando. Muito esganados, comem até três vezes ao dia e expelem um líquido salgado produzido por suas glândulas, o que lhes permite beber água do mar.

Machos e fêmeas se revezam na atenção aos filhotes para evitar que suas crias sirvam de banquete aos predadores - gaivotas e leões marinhos. Os pais defendem os ninhos, incubam os ovos e alimentam “los pichones”. No início de outubro, a fêmea põe geralmente dois ovos, que levam 40 dias para chocar e é normal apenas um sobreviver. Nascem cobertos de suaves plumas acizentadas pesando 80 gramas. Nos primeiros dias não abrem os olhos, mas emitem um piar sibilante e contínuo para pedir alimento.

Em fevereiro trocam a plumagem e em março são levado por seus progenitores, ao mar onde aprendem a pescar, a nadar e a se defender, Voltam à praia para descansar antes de seguir a viagem empreendida a cada ano. Partem de Punta Tombo em abril em direção ao norte da Argentina e ao sul do Brasil e do Uruguai. Alguns mais debilitados se perdem e são encontrados no litoral do Rio Grande do Sul. Portanto, a melhor época para visitá-los é entre os meses de outubro e fevereiro, quando a pinguïnera está apinhadinha deles.

No retorno de cada viagem anual, o macho chega primeiro para limpar a casa. Fiéis ao lugar onde nasceram, voltam sempre para a mesma toca. Cientistas constatam que esse processo é semelhante ao dos homens, que podem percorrer o mundo, mas regressam ao mesmo lar.

O Organismo Provincial do Turismo e a Sociedade Zoológica de Nova York estão estudando os pinguïns de Magalhães, que vivem em Punta Tombo, a fim de assegurar sua proteção. Em alguns é colocado um anel no tornozelo para identificá-los quando encontrados em outros locais. Há no mundo cerca de 22 espécies de pinguïns, a maioria espalhada pelo hemisfério sul. Na Antártida, por exemplo, moram os Imperadores, que chegam a medir 90 centímetros.

Em Punta Tombo se desfruta as maravilhas dessa “metrópole de pingüins”, se recebe uma verdadeira aula de biologia e até mesmo os menos cuidadosos levam consigo um forte espírito de preservação ecológica. É um espetáculo valorizado especialmente por europeus e japoneses e menos procurado por brasileiros. Na Pingüinera há apenas um pequeno restaurante para lanches rápidos e como souvenir todo o tipo de pingüins, desde os ímãs para as portas de geladeiras até adesivos para carro, ou ainda bichinhos de pelúcia. Mas a melhor lembrança é a quem vem registrada na memória en as fotos, é claro.

Por Stella Máris Valenzuela - 4983

* Texto escrito em 1995.

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