sábado, 14 de junho de 2014

Prove um chá no luxuoso Scribe, em Paris



As boas coisas da vida não têm preço. Degustar um chá no elegante Hotel Scribe, em Paris, é uma experiência memorável. Não perca esta oportunidade quando for à capital francesa. Sorvi lentamente um aromático oriental acompanhado de uma torta de chocolate, elaborada na sua refinada cozinha, enquanto trocava algumas palavras com minha amiga Tania Lequeux, integrante da atenciosa equipe deste hotel situado no coração da cidade luz e a dois passos da Ópera.

Lá tudo é glamour. Respira-se uma atmosfera do século 19. Em 1895, os irmãos Lumière usaram as instalações do Scribe como teatro para projetar as primeiras cenas do que viria a ser cinema. E hoje você pode hospedar-se no hotel, tomar um drinque ou um chá, desfrutando de um ambiente elegantemente conservado.

A simplicidade associa-se ao luxo. O serviço é cinco estrelas. Cada andar presta homenagem a um astro do mundo das artes. Há a suíte Marcel Proust, uma referência ao famoso escritor francês. Josephine Baker, a cantora e dançarina norte-americana e naturalizada francesa, também tem espaço reservado no Scribe, um local ideal para os amantes das artes, do bom gosto, do requinte, do luxo. Não perca.

Prove o que o hotel tem de melhor - chás, drinques, noites de sono, encontros com amigos, reuniões de trabalho - e sinta-se um personagem dos irmãos Lumière. Para Hemingway, Paris é uma festa. E no Scribe é tudo sofisticação.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A misteriosa Sarajevo entra na rota turística



Cheguei à capital da Bósnia-Herzegovina pouco antes do anoitecer. Paramos à beira do Rio Miljacka. À nossa frente, um prédio cultural da época do império austro-húngaro, totalmente reformado, contrastando com edificações salpicadas de cicatrizes da guerra. Num olhar panorâmico, observei as belas montanhas contornando a cidade.

Outrora, esta bela geografia aos olhos visitantes foi estratégica para o cerco de Sarajevo, entre 1992 e 1995, quando atiradores de elite sérvios posicionavam-se para acertar seus alvos. Esta página da história dá espaço a uma urbe reinventada, aberta à cultura e aos anuais festivais de cinema.

Aos poucos, senti os mistérios e os cheiros de Sarajevo. Como as pessoas, as cidades precisam de um tempo para uma aproximação amigável, para uma intimidade, para revelar-se. Dei mais alguns passos e estava diante do local onde, em 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando foi assassinado por um sérvio nacionalista. Este episódio foi desencadeador da 1º Guerra Mundial.

Hoje, estas marcas dissipam-se no cotidiano de um lugar com calçadões animados, bares ao ar livre, universidades e o famoso mercado, resquício do período Otomano. É lá que a vida pulsa e mistura aromas, produtos e pechinchas. Há cerca de cem mesquitas em Sarajevo. E os bondes elétricos agregam um perfil pitoresco.

Emocionante foi visitar o Túnel da Vida. Durante o cerco, restou aos bósnios cavar um túnel de mil metros numa área próxima ao aeroporto, onde estavam as forças da ONU. Vital, esta obra de engenharia transportou doentes, medicamentos, alimentos, água. Vi um vídeo documental e uma exposição fotografia.

Kátia foi a minha guia na Bósnia. Ela tinha apenas seis anos quando estourou o conflito. Sua cidade, Mostar, situada ao sul do país, não ficou ilesa. Foi um quebra-cabeça, envolvendo fatores políticos, religiosos, étnicos e de nacionalidades. Considerando-se croata, Kátia sonha, como os moradores do sul da Bósnia-Herzegovina, região mais desenvolvida, separar-se do norte, que é atrasado e pobre.

Acho uma pena fatiar um país exuberante, com montanhas, com florestas, com rios cristalinos, com história, com uma rica cultura. Eles deveriam somar esforços para impulsionar o crescimento de outras regiões e desfrutar de toda esta beleza, que vale a pena conhecer. Viajar pelo interior da Bósnia-Herzegovina foi uma agradável surpresa para mim. É um país de uma beleza natural cinematográfica. Fica a dica.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Palácio da Catarina, um dos mais requintados do mundo




Com cem quilos de ouro decorando uma fachada de mais de 300 metros de extensão e um interior exuberante, o Palácio da Catarina, a grande, é um dos prédios históricos mais luxuosos do planeta. A guia falou em dez quilos de ouro. Polêmica à parte, o fato é que pompa e requinte são DNAs do império czarista. Na Rússia, há fartura de edificações suntuosas.

A obra magnífica situa-se a 25 quilômetros de São Petersburgo, onde estava hospedada. Antes de ingressar na antiga residência de verão dos monarcas, percorremos os coloridos e geométricos jardins, o pavilhão da música e alguns palacetes, entre eles, o que Catarina recebia, em caráter privado, os seus escolhidos. Assim mesmo, no plural. Ela colecionava amantes.

Na parte interna do palácio rococó, de 1700, há uma sequência de salões espelhados com molduras douradas e com tetos artisticamente pintados. Há salas verdes, rosas, azuis, mas a de maior impacto é a âmbar, totalmente coberta com esta resina fóssil, abundante nas redondezas.

Esta joia barroca, destruída pelos alemães na segunda guerra mundial, está recuperada. E hoje, além de encantar turistas nacionais e internacionais, é local de aula prática para alunos de distintas faixas etárias. Emocionante observar crianças ouvindo seus mestres. Para quem tem sede, uma bela lição sobre arte, sobre história, sobre vida.




Jardins de Peterhof, luxo do império czarista



Estive na Rússia no outono dourado. Nesta estação do ano, os plátanos revelam-se ainda mais frondosos, realçando a luminosidade dos tons de vermelho, de amarelo e de verde. Foi num cenário assim que transcorreu a minha visita aos Jardins de Peterhof, situados a cerca de 30 quilômetros da antiga capital do país, São Petersburgo.

Um imenso parque abriga um conjunto de palácios e jardins. Ao todo são mais de 120 fontes. A magnífica obra foi edificada sob as ordens do czar Pedro, o grande. Este imperador, depois de conhecer o Versailles, chamou seu arquiteto preferido e determinou a construção de um palácio capaz de superar a beleza e o luxo do famoso château francês. E assim foi feito entre 1714 e 1725. Hoje, pessoas vestidas com roupas da época posam para fotos em troca de alguns rublos.

Em frente ao palacete, uma grande cascata em degraus escorre através de num canal até o mar Báltico. Como o rigoroso inverno da antiga União Soviética atinge temperaturas abaixo de 30 graus centígrados, as estátuas douradas e os jardins são removidos no finalzinho do outono, acondicionados para serem recolocados quando a primavera chegar. Recomendo esta visita para quem pretende aventurar-se por aquelas plagas. Leva-se mais de três horas para percorrer apenas parte dos jardins. Como estava com pouco tempo, não foi possível testemunhar o interior do palacete.

Na Rússia czarista tudo era exagero. Enquanto a corte vivia ostentando pompa e requinte, ao povo castigado restava o frio, a fome. A revolução de 1917 quis enterrar este miserável contraste. Passado o período comunista, hoje as marcas de uma sociedade desigual são visíveis aos olhos dos visitantes. Para além dos livros, percorrer a história in loco acrescenta e humaniza. Eis a relevância de viajar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Viagens: memória afetiva e pedaços de vida

Chamo de pedaços de vida estes papeizinhos acumulados nas viagens. Pode ser os tickets de ingresso em um museu ou em uma igreja, o passe de um metrô, um folder, uma propaganda gratuita. Estes impressos coloridos ou em preto e branco são verdadeiras relíquias para mim.

Quando algum amigo ou parente viaja, peço de presente um mapa, uma publicidade de fácil alcance no balcão do hotel ou em eventual restaurante. Encomendas, jamais. Meu interesse é focado nestes impressos de valor inestimável para aguçar o imaginário e renovar sonhos estradeiros. Tudo começou quando catava conchinhas nas praias maravilhosas de Santa Catarina e guardava em cestos de palhas, nos idos anos 80.

Há, porém, papéis mais preciosos. São os diplomas de lugares visitados. Ao cruzar a linha do equador pela Aeroflot, em 16 de fevereiro de 96, fui agraciada com um certificado apontando o seguinte: “de ahora en adelante, el gran Svarog, antiguo dios eslavo de los inconmensurables espacios siderales, brindará su poderosa protección al feliz poseedor de este diploma y ordena que se le rindan los honores que merece todo viajero que se haja trasladado de un hemisfério a otro por vía aérea”.

Outra certidão assevera minha estada no Tren a las nubes, no altiplano Argentino. Com duração de 12h, o transporte parte de Salta, La Linda, e tem seu ponto máximo no Viaduto de la Polvorilla, uma magnífica obra de engenharia situada a 4.200 metros sobre o nível do mar.

Guardo, também, o documento do passeio de balão na Cappadócia, na Turquia, em sete de setembro de 2011. Tive a sorte de ser conduzida pelo desenvolto piloto Yasar. Depois, fomos infelicitados com a notícia sobre o dramático acidente, vitimando inclusive brasileiros. Voar de balão na Cappadócia não é uma aventura. É um planar no silêncio para desfrutar uma paisagem ímpar. Considero seguro. A tragédia posterior foi acidental. Estatisticamente morrem mais pessoas nas estradas do nosso país do que nos céus do mundo.

Para além do afeto, estes pequenos recortes de viagens são incentivos a novos roteiros. Viajar é papo sério. Quase me esqueci de dizer que estes papeizinhos e folders são selecionados por países, arquivados em envelopes plásticos e, vez por outra, servem de relevantes dicas para incrementar viagens de amigos.


Cruzeiro pelas ilhas gregas, uma furada



O sonho de navegar pelas ilhas gregas a bordo de um navio alentou meu imaginário por anos. Em 2011, Luciene e eu zarpamos do porto de Atenas para uma viagem de cinco dias. Anos atrás, havia percorrido o Rio Nilo, num espetacular passeio pela milenar cultura egípcia. Outra experiência foi nas águas do São Francisco, do norte de Minas ao sul da Bahia. Teve também o cruce de los lagos, de Bariloche a Puerto Montt.

O Louis Cruises, porém, é um navio maior. Nossa primeira atividade foi presenciar simulações de emergência e aprender a usar o colete salva-vidas. Como de praxe, o navio oferece cassino, restaurantes, bares, discotecas, piscinas, cinemas, auditórios, espalhados pelos seus dez andares. O cassino era a referência para a nossa cabine. Ficava no mesmo piso. De maneira que pouco nos perdemos naquele labirinto.

Tudo é excessivamente organizado. Postado à porta dos restaurantes, um garçom ofertava álcool gel para higienizar as mãos dos comensais. Os anúncios soavam pelos alto-falantes. A ordem do desembarque era por nacionalidade, revezando-se nas saídas subsequentes. Recebíamos, nas cabines, jornais com as programações diárias das excursões.
Coube a mim o cartão magnético 6043. Guardei de recordação. Além de abrir a porta do quarto, registrava o consumo a bordo e identificava entradas e saídas do navio. Na hora combinada, o barco partia. Eventuais atrasados teriam de alcançá-lo no próximo porto.

A primeira parada foi em Míkonos, uma das ilhas mais atraentes e procurada por celebridades gregas e internacionais. Como o mar estava agitado, desembarcamos numa área distante e um ônibus nos levou até o acesso ao emaranhado de ruelas com casinhas brancas. Os moinhos são lindos. Fomos agraciadas com um belo pôr do sol.

Kusadasi, na Turquia, foi o segundo porto. O Louis Cruises atracou ao lado de um exuberante navio com o dobro do seu tamanho. Humilhante. Na sequência, Pátmos, onde São João escreveu o Apocalipse. Depois Rodes, ilha das rosas. Mais ao sul, Heráklio, capital de Creta, lar do minotauro, aquele com cabeça e cauda de touro num corpo de homem.

Santorini nos esperou para o grand finale. Esta ilha vulcânica com casas debruçadas sobre os penhascos tem a forma de lua crescente. Dizem ter sido o reino perdido de Atlântida. De ônibus, subimos serpenteando o íngreme morro e baixamos de teleférico. Preferimos não arriscar o lombo das pobres mulas que, vez por outra, escorregam e despencam no abismo. O pôr do sol e um vinho grego formaram um par perfeitos na despedida.

O esplendor das ilhas gregas merece um vagaroso andar. Se soubesse do rápido trote, teria me hospedado em Santorini e em Míkonos, como fez minha amiga Bela. De lá é fácil deslocar-se para outros locais. Sem dúvida, seria mais aprazível do que ver tanta beleza no clarão de um raio se apagar num estalar de dedos. Fica a dica.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Moscou: cultura, história e muito mais












Por longos anos, a Rússia constou na minha lista de países prioritários à visitação. Um dia, porém, é preciso parar de sonhar e partir. Embarquei numa aeronave da TAP, num voo direto de Porto Alegre a Lisboa, no final de uma tarde chuvosa de setembro de 2012 e aterrissei com sol no velho continente, às 11h do dia seguinte. Como o voo para Moscou só saia às 18h, decidi, por comodidade, pernoitar na capital lusa. Tive tempo suficiente para um belo passeio pela pitoresca cidade.

Segui viagem pela aviação portuguesa. A pessoa contratada para conduzir-me do aeroporto Domodedovo ao hotel estava no desembarque. Irina tem um espanhol irretocável. De modo que, durante o percurso, engatamos num diálogo esclarecedor. Eu necessitava de detalhes para circular pelo país de Tchaikovsky e ela com suas curiosidades sobre o Brasil.

Revigorada com o banho, estava pronta para explorar o desconhecido. Como ocorre em cidades europeias, a cartografia de Moscou conta com aneis viários. Nestas grandes avenidas de alta velocidade não há semáforos. Os pedestres usam as passagens subterrâneas, um recurso civilizado e de agradável circulação.

No trajeto à Praça Vermelha percorri a Nova Arbat, uma movimentada rua construída por Stalin. Para o retorno, preferi a deliciosa via de pedestres, Stary Arbat, onde desenhistas oferecerem suas artes ao lado de vendedores de flores, de livros e de lojas com típicas mamuskas e antigos ovos fabergé.

A Praça Vermelha é imensa. O marco zero de Moscou localiza-se justamente no pórtico de entrada desta histórica área. Lá está o mausoléu do Lênin. O Kremlin é uma gigantesca fortaleza cercada por muralhas e com vinte torres de observação, sendo a do Salvador a principal. O seu interior reúne palácios e importantes igrejas com primorosas pinturas ortodoxas. E tudo isto a poucos passos do navegável Rio Moscou.

A catedral de São Basílio é, sem dúvida, um dos prédios mais lindos desta cidade palco de cenas do filme Anna Karenina. São Basílio é uma verdadeira obra de arte edificada em 1500 para celebrar a vitória do czar Ivan, o terrível, sobre os tártaros. Depois de concluída, ele ordenou cegar os olhos do arquiteto idealizador para que o mundo nunca mais visse algo tão belo. Emocionante apreciar o prédio.

Outra edificação de destaque na Praça Vermelha, cujo significado é bonita, é a loja Gum. Erguida em 1800 e de importante mercado à época soviética, transformou-se num shopping de grifes famosas. A Catedral Cristo Salvador, o teatro Bolshoi e estações do imperdível metrô também estão próximos a este local de onde emana todo o poder russo.

Penso que superlativa é uma palavra possível de sintetizar a Rússia. Lá tudo é grandioso: as avenidas, os prédios, os museus, a arte, sem falar no legado de Tolstói, de Dostoiévski, de Tchekhov, do poeta Maiakovski. Uma viagem no tempo, recheada de história, de arte, de cultura, contrastando com um indigesto McDonald´s bem no coração de Moscou.