terça-feira, 19 de agosto de 2008

Descer canyons exige técnica*

Neyton Reis Filho, 35 anos, é bi-campeão brasileiro de balonismo e um dos maiores conhecedores de canyons do Rio Grande do Sul. Nos últimos oito anos fez 69 travessias de canyons com sucesso. O contato íntimo com a natureza surgiu na infância. Gostava de subir as pedreiras no sítio de seu pai, em Viamão. Mas foram os cinco anos de trabalho como enfermeiro na UTI neurológica do Hospital São José da Santa Casa e no Hospital Porto Alegre entre 85 e 90, que levaram Neyton a mudar de vida. "Sentia necessidade desopilar".

Na companhia de um amigo, inaugurou a nova fase. Eles abriram a loja Entre-fendas. Vendiam materiais de montanha e ofereciam cursos de trekking em canyons. Na páscoa de 90 fez sua primeira travessia. Neyton e mais duas pessoas ficaram oito horas e meia dentro do Itaimbezinho. Desceram uns 200 metros pelo vértice e saíram em Praia Grande, em Santa Catarina. Percorreram algo como 5.800 metros. Lá em baixo ficavam abismados olhando as paredes de até 720 metros.

Um estudo meteorológico é indispensável. A precipitação pluvial é o terror desses esportistas. "As chuvas aumentam o risco de bloqueio de passagens, provocam avalanches e fortes correntezas", explica. As dificuldades foram de toda ordem. Muita umidade, terreno escorregadio, excesso de limo, sem falar na fadiga. "A gente movimenta todos os músculos do corpo, inclusive o mais importante - o cérebro".

O desgaste é grande. Para vencer a jornada, se alimentavam com pedacinhos de charque e chocolate. Vestiam roupas de brim e calçavam coturnos. A experiência lapidou o conhecimento. Hoje ele está profissionalizado e também auxilia a Brigada Militar nos resgates de vítimas.

Os cursos, por eles ministrados, duram dois meses. Têm duas aulas teóricas. Nestas, os alunos conhecem os equipamentos, recebem informações sobre primeiros socorros e fatores itinerantes. E aprendem a técnica de nós em cordas. Tem nó para tudo. Para rebocar pessoas, para descida por corda, para ancoragem e outros tantos. O complemento vem com as aulas práticas. Estas consistem na travessia do Churriado, Malacara e Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral.

De Terra de Areia até Urubici/SC há 30 diferentes formações de canyons na borda da serra. Em novembro de 90, Neyton conquistou o Josafaz, o maior de Aparados da Serra, com 15 quilômetros de extensão. E em abril de 97 foi recordista em transposição de parede, superando 850 metros de via.

Esta prática esportiva requer capacete, luvas de proteção, polainas, cinto de segurança de escalada, mochila, mosquetões (anéis de rosca, que servem para segurança), freio para descidas, corda, lanterna de cabeça, cadeirinha e rede de selva.

Numa das idas ao Itaimbezinho, Neyton avistou um balão. Primeiro lhe ocorreu que seria uma miragem, mas acabou encontrando o acampamento dos balonistas. A partir de então fez amizade com a equipe paulista e passou a ser também navegador. Em agosto participou do 11º Campeonato Brasileiro de Balonismo, em São Lourenço, Minas Gerais.

Montanhas e balonismo proporcionam a Neyton contato intenso com a natureza - sua primeira paixão. "A montanha pode levar à morte. Trata-se de um risco, que deve ser assumido pelo praticante. Este, tem de avaliar as condições de seu equipamento. "Os acidentes, em grande parte são causados por falhas humanas, ou negligências na revisão do material".

* Matéria de Stella Máris Valenzuela publicada no Extra Classe de dezembro de 98

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