segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Os preparativos



Meu distino - Paris

Este texto foi escrito em 2000 após voltar de uma viagem à Europa, onde visitei Espanha, França, Portugal e Inglaterra. Nele, falo sobre a importância de organizar viagem. Por considerá-lo atual, decidi publicá-lo.


Organizar uma viagem me dá prazer e um pouco de trabalho. Tudo precisa ser estudado em minúcias. Isto significa dedicar horas à leitura e à pesquisa. “Europa a $ 50 por dia”, da Frommer’s é uma opção para quem valoriza o dinheiro. Conjugar o baixo custo com o bom gosto requer investimento prévio. Os guias editados pela Folha de São Paulo auxiliam cada passo da viagem. E há outros tantos disponíveis no mercado. As informações oferecidas pelas revistas, cadernos de turismo, vídeos, internet e experiência de amigos servem para confrontar dados, esclarecer dúvidas e aperfeiçoar os roteiros.

Pouco antes de embarcar para a Europa fui jantar na casa de um amigo. Jaime também estava indo para o velho continente mais ou menos na mesma época. Só que ele começava por Londres e terminava em Madri. E eu faria o contrário. Para o jantar, ele convidou um colega da Ulbra que acabava de chegar de Paris e nos passaria uma dicas preciosas. Foi quando eu fiquei sabendo que o quilômetro zero de Paris esta localizado exatamente em frente à catedral de Notre Dame, na Ile de la Citê. Comprovei na prática em companhia da Silvane, uma argentina que conheci por lá. E como estaríamos na cidade luz em pleno inverno, ele alertou para que optássemos pela Torre Eiffel num dia ensolarado para poder desfrutar de uma vista mais abrangente, deixando os museus para os períodos de chuva. Trocas como estas têm um valor inestimável para quem quer aproveitar o passeio da melhor forma possível.

O sucesso de uma viagem reside nos pequenos detalhes. Coisas bem simples mesmo, como saber o fuso horário, por exemplo. Isto se pode obter nos próprios jornais. A temperatura também deve ser acompanhada pelos diários. Antes de partir é recomendável consultar a Empresa Brasileira de Turismo (Embratel) sobre as ligações a cobrar. Os números mudam de acordo com o país. E há modalidades diferentes para completar uma chamada, inclusive sem passar por telefonista. Isto facilita especialmente aqueles que não dominam outros idiomas. E é também uma forma de não perder tempo no lugar de destino.

Levar na bagagem o endereço da Anistia Internacional, dos Consulados Brasileiros e de pessoas que vivem nos locais onde se vai visitar propicia segurança. Conversando com um ou com outro amigo se descobre algum gaúcho fazendo um mestrado na Sorbonne ou um doutorado em Londres. Mesmo que o contato não se concretize dá uma certa tranqüilidade saber da existência de um conterrâneo em terras distantes. Há consulados com escritório no Brasil que oferecem auxilio aos turistas. Carregar guias de viagem, dicionários e livros com frases prontas em diversos idiomas não é a melhor escolha. O segredo é fazer xérox dos mapas das cidades, dos pontos que interessam conhecer. As cópias dos planos de metrô devem ser coloridas, pois as linhas são identificadas por cores, desta forma em preto e branco ficariam prejudicadas. Os postos de informações das estações fornecem mapas da cidade e do metrô, reservam hotéis, indicam albergues e outras informações que os turistas sempre estão buscando.

Conhecer um pouco do idioma dos países visitados facilita a vida de quem não é poliglota. A Berlitz tem edições próprias para viagens com frase prontas, indicando inclusive a pronúncia. Comprei dois deles na Sulina - Inglês para viagem e Francês para viagem. Não é preciso gastar muito esforço para dominar algumas palavras em francês, inglês, espanhol e italiano, por exemplo, mas ajuda na comunicação, na leitura de placas e de avisos nas estações de trem e nos aeroportos. Isto evita perder um vôo ou fazer uma conexão equivocada.

A fama de que os parisienses são intolerantes com os turistas corre o mundo. Eu não compartilho desta premissa. Comigo eles foram amáveis. Basta, para tanto, saber abordá-los. Há algumas regras de boa educação que eles valorizam. Seguindo estes passos, estaremos diante de pessoas simpáticas. Tente. Pardon monsieur - ou Pardon mademoiselle. S’il vous plaît. m’ indiquer la direction de la Tour Eiffel? Merci bien. Au revoir. É infalível. Os guardas franceses costumam ser atenciosos. Quando se pede informação, eles têm por norma bater continência. É divertido.

A mala não é um detalhe menos importante. Deve, portanto, ser o menos pesada possível e adequada ao tipo de transporte escolhido. Os compartimentos dos trens europeus são pequenos para acomodações de bagagens. E para evitar surpresas desagradáveis, os pertences devem ficar próximos, especialmente na Itália. O ideal é levar uma sacola não muito grande e um pouco vazia. Para o inverno basta apenas um casaco quente, uns dois pares de sapatos, uma manta, um chapéu ou boné, dois blusões, duas calças ou saias, roupas íntimas, os xérox dos guias e um relógio despertador. Aqueles que fumam devem levar seu próprio cigarro, pois os preços em dólar são exorbitantes. Mas devem sempre estar atentos para a quantia permitida pela alfândega de cada Estado. Deve-se ter cuidado quanto aos medicamentos. Alguns não passam pela fronteira. E ficar atento ao tipo de vacina necessária aos países que se vai percorrer. Além disso, levar algumas roupas velhas possibilita substituí-las por peças novas, deixando as antigas pelos caminhos sem o menor remorso. Os espaços vazios das malas vão sendo preenchidos com lembrancinhas típicas e aqueles badulaques irresistíveis.

Uma mala pequena e leve pode ser transportada facilmente em metrô, em ônibus urbano ou até mesmo a pé. As tarifas de táxis pesam no bolso dos brasileiros. Estava esperando o elevador na Pensión Dalí, em Barcelona quando encontrei duas santa-marienses. Elas vinham de Paris e carregavam uma mala de mais de um metro de altura e umas três sacolas de médias para grande, além das bolsas. Enquanto elas descarregavam todas aquelas tralhas, se queixavam sobre as dificuldades encontradas por transportar todo aquele volume exagerado. E eu - ao estilo europeu - empurrava apenas uma sacola de rodinhas. Meu destino - Paris.