quarta-feira, 23 de abril de 2014

Viagens: memória afetiva e pedaços de vida

Chamo de pedaços de vida estes papeizinhos acumulados nas viagens. Pode ser os tickets de ingresso em um museu ou em uma igreja, o passe de um metrô, um folder, uma propaganda gratuita. Estes impressos coloridos ou em preto e branco são verdadeiras relíquias para mim.

Quando algum amigo ou parente viaja, peço de presente um mapa, uma publicidade de fácil alcance no balcão do hotel ou em eventual restaurante. Encomendas, jamais. Meu interesse é focado nestes impressos de valor inestimável para aguçar o imaginário e renovar sonhos estradeiros. Tudo começou quando catava conchinhas nas praias maravilhosas de Santa Catarina e guardava em cestos de palhas, nos idos anos 80.

Há, porém, papéis mais preciosos. São os diplomas de lugares visitados. Ao cruzar a linha do equador pela Aeroflot, em 16 de fevereiro de 96, fui agraciada com um certificado apontando o seguinte: “de ahora en adelante, el gran Svarog, antiguo dios eslavo de los inconmensurables espacios siderales, brindará su poderosa protección al feliz poseedor de este diploma y ordena que se le rindan los honores que merece todo viajero que se haja trasladado de un hemisfério a otro por vía aérea”.

Outra certidão assevera minha estada no Tren a las nubes, no altiplano Argentino. Com duração de 12h, o transporte parte de Salta, La Linda, e tem seu ponto máximo no Viaduto de la Polvorilla, uma magnífica obra de engenharia situada a 4.200 metros sobre o nível do mar.

Guardo, também, o documento do passeio de balão na Cappadócia, na Turquia, em sete de setembro de 2011. Tive a sorte de ser conduzida pelo desenvolto piloto Yasar. Depois, fomos infelicitados com a notícia sobre o dramático acidente, vitimando inclusive brasileiros. Voar de balão na Cappadócia não é uma aventura. É um planar no silêncio para desfrutar uma paisagem ímpar. Considero seguro. A tragédia posterior foi acidental. Estatisticamente morrem mais pessoas nas estradas do nosso país do que nos céus do mundo.

Para além do afeto, estes pequenos recortes de viagens são incentivos a novos roteiros. Viajar é papo sério. Quase me esqueci de dizer que estes papeizinhos e folders são selecionados por países, arquivados em envelopes plásticos e, vez por outra, servem de relevantes dicas para incrementar viagens de amigos.


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