segunda-feira, 28 de abril de 2014

A misteriosa Sarajevo entra na rota turística



Cheguei à capital da Bósnia-Herzegovina pouco antes do anoitecer. Paramos à beira do Rio Miljacka. À nossa frente, um prédio cultural da época do império austro-húngaro, totalmente reformado, contrastando com edificações salpicadas de cicatrizes da guerra. Num olhar panorâmico, observei as belas montanhas contornando a cidade.

Outrora, esta bela geografia aos olhos visitantes foi estratégica para o cerco de Sarajevo, entre 1992 e 1995, quando atiradores de elite sérvios posicionavam-se para acertar seus alvos. Esta página da história dá espaço a uma urbe reinventada, aberta à cultura e aos anuais festivais de cinema.

Aos poucos, senti os mistérios e os cheiros de Sarajevo. Como as pessoas, as cidades precisam de um tempo para uma aproximação amigável, para uma intimidade, para revelar-se. Dei mais alguns passos e estava diante do local onde, em 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando foi assassinado por um sérvio nacionalista. Este episódio foi desencadeador da 1º Guerra Mundial.

Hoje, estas marcas dissipam-se no cotidiano de um lugar com calçadões animados, bares ao ar livre, universidades e o famoso mercado, resquício do período Otomano. É lá que a vida pulsa e mistura aromas, produtos e pechinchas. Há cerca de cem mesquitas em Sarajevo. E os bondes elétricos agregam um perfil pitoresco.

Emocionante foi visitar o Túnel da Vida. Durante o cerco, restou aos bósnios cavar um túnel de mil metros numa área próxima ao aeroporto, onde estavam as forças da ONU. Vital, esta obra de engenharia transportou doentes, medicamentos, alimentos, água. Vi um vídeo documental e uma exposição fotografia.

Kátia foi a minha guia na Bósnia. Ela tinha apenas seis anos quando estourou o conflito. Sua cidade, Mostar, situada ao sul do país, não ficou ilesa. Foi um quebra-cabeça, envolvendo fatores políticos, religiosos, étnicos e de nacionalidades. Considerando-se croata, Kátia sonha, como os moradores do sul da Bósnia-Herzegovina, região mais desenvolvida, separar-se do norte, que é atrasado e pobre.

Acho uma pena fatiar um país exuberante, com montanhas, com florestas, com rios cristalinos, com história, com uma rica cultura. Eles deveriam somar esforços para impulsionar o crescimento de outras regiões e desfrutar de toda esta beleza, que vale a pena conhecer. Viajar pelo interior da Bósnia-Herzegovina foi uma agradável surpresa para mim. É um país de uma beleza natural cinematográfica. Fica a dica.

Nenhum comentário: